Fragmento retirado do livro de autor anônimo “Á Juventude Ribeirense – cujo lemma deverá ser: estudar,
evoluir, reformar e progredir se quiser vencer”, publicado no ano de 1919 narra
além deste, muitos outros fatos históricos ocorridos nos primeiros anos de formação
e construção de Ribeirão Vermelho.
São registros históricos muito
interessantes para quem se interessa pela história de nossa terra.
“1891
Chegam dois comboios
transportando quatro locomotivas de bitola de 1 metro e ainda não tem, em construção,
um metro de linha.
Campos, apaixonado por
montar uma locomotiva, mete mãos á obra e monta a primeira que foi denominada “Capivary”.
A companhia E. de Ferro
oeste de Minas compra a empresa Castro Rocha & C. ficando como diretor dos
trabalhos de construção, Antônio Rocha.
Este, chama para os
escriptorios o Dr. Emilio, ficando o Dr. Cerqueira Lima em seu logar.
Campos, ao ter tal noticia,
ficou sabendo que estava por pouco sua estadia na Companhia e preparou-se
estoicamente para isso.
O Dr. Cerqueira Lima,
tomando conta do logar, veiu a Ribeirão, examinou os trabalhos da locomotiva,
porém, com acinte a Campos, que o acompanhava, não visitou os vapores. Como já era
de esperar, um substituto de Campos não demorou a vir, na pessoa de um tal
Firmino, hespanhol que logo mostrou poucas aptidões, para o cargo de tanta
responsabilidade, como é o chefe de suas oficinas, embora em inicio, como
estavam as de Ribeirão Vermelho.
Campos, magoado, porém,
sem desanimo, logo se colocou na Central.
Lógo que Firmino se viu
á frente de seu pessoal, quis mostrar para quanto prestava e resolveu passar a
locomotiva montada por Campos, para a margem esquerda do Rio Grande, posto que não
houvesse ponte, nem sequer o competente leito de estrada na margem opposta, com
a grata miragem de ir apitar na cidade de Lavras!...
Para esse fim, reuniu
duas lanchas, e para ellas transportou tal locomotiva – apoz o que sem muitas
cautelas, mandou cortar as amarras e prapara-se para atravessar o rio a
ferry-boat.
Porém, oh desilusão! Em
logar de palmas e apllausos da multidão que assistia a tal acto, caiu das
nuvens, vendo a “Capivary” docemente ir escorregando e sumindo na barrenta agua
do rio, como a sua homonyma a “Capivara”.
Tinha-se esquecido de
equilibrar o systema de transporte, de fórma que, por inepcia e imprevidencia,
baptisou dessa fórma a primeira locomotiva de bitola de metro; e grande foi o
mergulho, que nelle ficou pelo espaço de alguns anos, porquanto construiu-se a
grande ponte metallica sobre o rio, inaugurou-se a estação de Lavras e a “Capivary”
continuava no seu doce leito de areia, e livre dos abrasadores raios de Sol
inclemente, pelos já frondosos arbustos que a propria natureza, em volta, fez
brotar, sem duvida, para tal fim.
Desta fórma, ficou
plenamente vingado o competente Campos e Dr. Cerqueira Lima desapontado com tal
empregado, pelo que o convidou, sem demora a pedir demissão. Para seu logar,
veiu, a chamado, o Sr. João dos Santos Dias e com uma grande turma começa a
montagem de machinas nas officinas em construção.”
Obs. O capítulo do livro foi transcrito na integra, utilizando-se dessa forma a ortografia da época.
Muito doido o Firmino.
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