segunda-feira, 15 de agosto de 2016

A HISTÓRIA DA “CAPIVARY”, PRIMEIRA LOCOMOTIVA MONTADA EM RIBEIRÃO VERMELHO, NO ANO DE 1891

Fragmento retirado do livro de autor anônimo “Á Juventude Ribeirense cujo lemma deverá ser: estudar, evoluir, reformar e progredir se quiser vencer”, publicado no ano de 1919 narra além deste, muitos outros fatos históricos ocorridos nos primeiros anos de formação e construção de Ribeirão Vermelho.
São registros históricos muito interessantes para quem se interessa pela história de nossa terra.

“1891
Chegam dois comboios transportando quatro locomotivas de bitola de 1 metro e ainda não tem, em construção, um metro de linha.
Campos, apaixonado por montar uma locomotiva, mete mãos á obra e monta a primeira que foi denominada “Capivary”.
A companhia E. de Ferro oeste de Minas compra a empresa Castro Rocha & C. ficando como diretor dos trabalhos de construção, Antônio Rocha.
Este, chama para os escriptorios o Dr. Emilio, ficando o Dr. Cerqueira Lima em seu logar.
Campos, ao ter tal noticia, ficou sabendo que estava por pouco sua estadia na Companhia e preparou-se estoicamente para isso.
O Dr. Cerqueira Lima, tomando conta do logar, veiu a Ribeirão, examinou os trabalhos da locomotiva, porém, com acinte a Campos, que o acompanhava, não visitou os vapores. Como já era de esperar, um substituto de Campos não demorou a vir, na pessoa de um tal Firmino, hespanhol que logo mostrou poucas aptidões, para o cargo de tanta responsabilidade, como é o chefe de suas oficinas, embora em inicio, como estavam as de Ribeirão Vermelho.
Campos, magoado, porém, sem desanimo, logo se colocou na Central.
Lógo que Firmino se viu á frente de seu pessoal, quis mostrar para quanto prestava e resolveu passar a locomotiva montada por Campos, para a margem esquerda do Rio Grande, posto que não houvesse ponte, nem sequer o competente leito de estrada na margem opposta, com a grata miragem de ir apitar na cidade de Lavras!...
Para esse fim, reuniu duas lanchas, e para ellas transportou tal locomotiva – apoz o que sem muitas cautelas, mandou cortar as amarras e prapara-se para atravessar o rio a ferry-boat.
Porém, oh desilusão! Em logar de palmas e apllausos da multidão que assistia a tal acto, caiu das nuvens, vendo a “Capivary” docemente ir escorregando e sumindo na barrenta agua do rio, como a sua homonyma a “Capivara”.
Tinha-se esquecido de equilibrar o systema de transporte, de fórma que, por inepcia e imprevidencia, baptisou dessa fórma a primeira locomotiva de bitola de metro; e grande foi o mergulho, que nelle ficou pelo espaço de alguns anos, porquanto construiu-se a grande ponte metallica sobre o rio, inaugurou-se a estação de Lavras e a “Capivary” continuava no seu doce leito de areia, e livre dos abrasadores raios de Sol inclemente, pelos já frondosos arbustos que a propria natureza, em volta, fez brotar, sem duvida, para tal fim.
Desta fórma, ficou plenamente vingado o competente Campos e Dr. Cerqueira Lima desapontado com tal empregado, pelo que o convidou, sem demora a pedir demissão. Para seu logar, veiu, a chamado, o Sr. João dos Santos Dias e com uma grande turma começa a montagem de machinas nas officinas em construção.”

Referência: Á Juventude Ribeirense – cujo lemma deverá ser: estudar, evoluir, reformar e progredir se quiser vencer. Ed. Pap. Venus, Rio de Janeiro, 1919. P. 10-12


Obs. O capítulo do livro foi transcrito na integra, utilizando-se dessa forma a ortografia da época. 

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